Qual a solução para a crise no mercado editorial?


Desde o ínicio do ano grandes livrarias vem sofrendo com os efeitos da queda no mercado editorial. A Fnac encerrou suas atividades; A Livraria Cultura vem fechando sistematicamente suas lojas, seguindo um plano de reestruturação e, recentemente, entrou com um pedido de recuperação judicial. A Saraiva, maior rede de livrarias do país, também vem passando por dificuldades.

Recentemente as editoras se reuniram para debater possíveis soluções para ajudar a Saraiva a não entrar com um pedido de recuperação judicial, mas a SNEL (Sindicato dos editores de livros) já descartou um acordo e jogou a primeira pá de terra na cova que a Saraiva cavou. Na proposta rejeitada, a Saraiva solicitava o perdão de 40% da dívida e ainda parcelar o restante em 10 anos!!!
#absurdo
#rindo

Mas por que as editoras tentaram salvar a Saraiva e não tentaram salvar a Cultura e a Fnac?

Porque a Saraiva é detentora de 30% do mercado editorial. Só por isso.
Eu, particularmente, acho o serviço prestado pela Saraiva péssimo. Eles vendem livro que não tem no estoque; diz que o livro vai chegar num dia e nunca chega; praticam venda casada em eventos literários, obrigando os leitores a pagarem um preço absurdo no livro lançamento para poder ter direito a autografar com o autor (detalhe! O livro tem que ser comprado na Saraiva!! Tem que mostrar nota fiscal e tudo!)
É uma verdadeira aula de desrespeito ao cliente na minha opinião.
Então, o primeiro pensamento que me veem a cabeça é: "Bem feito! Tomara que feche mesmo!"


Porém, precisamos levar em consideração duas coisas:

1. Milhares de pessoas ficarão sem emprego com a falência da Saraiva. Não se trata apenas dos funcionários das lojas. Por trás existem as áreas de logística, comercial, comunicação, administrativo, editorial, e-commerce, que também ficarão desempregados.
E como todo mundo bem sabe... não tá fácil pra ninguém arrumar emprego hoje em dia. 

2. Muitas localidades, principalmente para o interior do país, SÓ EXISTE A SARAIVA.
"Ah, mas tem a Amazon."
Realmente, a Amazon tem uma logistica de entrega sensacional, mas dependendo de onde você mora, o frete da Amazon é mais caro do que o livro que você esta comprando.
Pergunte ao pessoal que mora no Norte e Nordeste do Brasil pra ver se eu estou mentindo...


Mas como chegamos a essa situação? 


O primeiro sinal de que o mercado editorial precisava se reformular veio com a Amazon. 
Quando a Amazon anunciou sua vinda ao Brasil, as livrarias já sinalizaram que a vinda dela poderia quebrar o mercado editorial, pois ela trabalha com preços muito mais competitivos do que os particados pelo varejo físico. Porém, o que as livrarias fizeram para se preparar para o chamado "efeito Amazon"
Nada. 

As editoras, por sua vez, também não fizeram muita coisa para mudar. Conforme foi debatido em artigo da revista Época, se o mercado tivesse investido mais em e-books, por exemplo, a crise que vemos hoje não seria tão profunda, visto que as editoras não seriam tão dependentes das vendas dos livros físicos e do repasse das livrarias. 

Depois precisamos entender como funciona o sistema de consignação
Neste sistema, as editoras enviam seus lançamentos as livrarias como um empréstimo. Os livros vendidos tem seu valor dividido entre a livraria e a editora. Só que até onde me consta, a livraria fica com 60% do valor do livro! 
Isso mesmo, 60%!!! 

Os outros 40% que vão para editora, ainda precisa ser repassado para o pagamento de todos os funcionários; da gráfica; os direitos do autor que produziu aquela obra e gerar algum lucro. 
Ou seja, essa conta não fecha! 

Se isso fosse um casamento, nós diríamos que trata-se de um relacionamento abusivo, né? Afinal, quem tem todo o trabalho de produzir o livro fica com a menor porcentagem. 
Mas enfim... vai entender por quê as editoras aceitam isso...

E agora? O que fazer? 

Bem... com um cenário tão catastrófico como esse, vocês concordam que o modelo de negócio esta seriamente prejudicado e que precisa ser reformulado, né?

Uma editora já percebeu isso.
A editora Aleph percebeu que poderia lançar um livro através do Catarse, pedindo a juda dos leitores interessados para o financiamento deste projeto.
Além de verificar se existe demanda para esse tipo de livro, eles agregaram valor ao produto ao incluir mimos exclusivos e, como bônus, não dependem de nenhuma livraria para obter lucro caso o projeto seja bem sucedido.


Outras editoras poderiam investir nesses financiamentos coletivos, mas isso significaria que elas precisariam adimitir que o modelo de negócios esta indo pro brejo...

Porém temos bons exemplos de editoras que surgiram no Catarse e que hoje conseguem obter bons lucros e manter leitores fiéis, como é o caso da Editora Wish. Um case de sucesso que poderia (e deveria) ser copiado.




Outro problema gerado por essa crise é que com o fechamento das livrarias, os eventos literários estão com seus locais ameaçados. Para isso, existem duas soluções:

A primeira é uma nova modalidade de evento vem ganhando adeptos e mostra-se uma solução para autores e editoras nesse momento de crise, visto que também agrega valor ao produto e gera uma renda extra. Trata-se dos Book Signings.

No Brasil, o The Gift Day, um evento inspirado nos Book Signings internacionais, como o europeu RARE, e o americano Book Bonanza, chega a sua 3° edição. O próximo evento ocorrerá no dia 09/12 no Rio de Janeiro.


Esse tipo de evento é bem parecido com uma Bienal, mas tem como propósito trazer uma experiência completa ao leitor, dando a oportunidade de não só pegar o autógrafo, mas realmente conversar com o autor; conhecer o modelo que esta na capa do livro; trocar experiências com outros leitores e ainda sair carregado de mimos exclusivos. Tudo isso, claro, tem um custo, mas se as editoras trabalharem direito o marketing desse tipo de evento, ele tem grandes chances de vir a substituir os eventos literários que estamos acostumados a ir e ainda equilibrar as contas das editoras participantes.

A outra opção seria voltar a ocupar os espaços públicos como as bibliotecas, e passar a realizar os encontros neste locais. Só tem um problema: qualquer coisa para ser feita em uma biblioteca requer uma petição a um orgão público e isso quer dizer MUITA BUROCRACIA.
Isso, sem contar que as bibliotecas públicas também vem perdendo espaço e fechando devido a falta de orçamento do governo.

Como podem ver, o futuro do mercado editorial não é nada animador, mas existem algumas soluções possíveis. Resta saber quem vai ter coragem de tocar o barco pra frente e implementar essas soluções antes que seja tarde demais...

Quer saber mais sobre o mercado editorial e essa crise? Então confere esse vídeo.

Natalia Eiras

3 comentários:

  1. Nossa, não imaginei que as livrarias ficavam com 60% dos lucros dos livros, e que as editoras com somente 40% por cento!
    Fiquei pasma!

    É uma grande pena mesmo que as livrarias estejam fechando as suas portas. Significa como nos contou , mais desemprego , menos cultura para todos.
    Mas o país está em crise. Se há solução, não sei!
    Diante de tantas barbaridades, infelizmente acredito que tudo só vai piorar.
    Tem que haver uma estratégia. Mas qual?

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  2. É realmente difícil entender a situação do mercado literário brasileiro e todas essas manobras. Concordo com você, e acho um absurdo essas vendas casadas nos eventos, sem contar nos preços dos livros em alguns eventos, que além de tudo ainda cobram pra entrar. Essas possíveis soluções buscadas por algumas editoras eu não conhecia. Cada um faz o que pode.

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  3. A situação do mercado editorial sempre foi dificil, visto que a situação literária do país não é uma das melhores. Ultimamente, a situação está cada vez pior. Eu sempre comprei online pela Saraiva, e sempre fui bem "atendido", não fazia ideia do quão burocrática ela é nos eventos. Nossa, decepcionado. A Aleph vem buscando se salvar, espero que todas consigam.

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