As cidades invisíveis




Livro: As cidades invisíveis. 

Título original: Le città invisibili. 

Autor: Italo Calvino. 



ADVERTÊNCIA: São necessárias cinco leituras, no mínimo, para se chegar à conclusão de que você ainda precisa ler mais umas cinco vezes. 

SINOPSE DA EDITORA: O famoso viajante Marco Polo descreve para Kublai Khan as incontáveis cidades do imenso império do conquistador mongol. Neste livro surpreendente, a cidade deixa de ser um conceito geográfico para se tornar um símbolo complexo e inesgotável da experiência humana.


Assim que fui informada que eu começaria a publicar minhas resenhas a partir de setembro, corri para a prateleira e para os ebooks na tentativa de decidir sobre qual livro falaria, ou melhor, escreveria. 

Na hora, me veio a ideia de escrever sobre algum autor italiano e “puxar (obviamente) sardinha” para o meu lado. Mas qual autor? Qual livro? 

Como a ideia das resenhas é feita a partir de nossas próprias leitura (ganhei passe livre para escrever sobre qualquer livro!! Amo vocês, meninas!), peguei minha lista interminável e lá estava “As cidades invisíveis”, de Italo Calvino, bem no topo da lista juntamente com uma outra autora contemporânea italiana (cenas dos próximos capítulos). 

O livro entrou para lista após o preparo de uma prova para meus alunos na qual havia um pequeno texto, para interpretação, que falava sobre o viajante, mercador e embaixador Marco Polo o qual, também, é o protagonista do romance de Calvino. 

Não hesitei em adquirir o livro. Era do Calvino! E eu já tinha lido e me apaixonado por outras histórias contadas por esse cubano (vou explicar essa história mais tarde). Foram três leituras maravilhosas - inclusive, em uma delas, tenho uma xará – e com esta quarta não foi diferente. 

Mais uma vez embebido nesta temática de viagens, o livro tem como personagem principal Marco Polo (como já mencionado), um viajante veneziano, que narra suas inúmeras andanças ao imperador mongol Kublai Khan que, por sua vez, utiliza-se das descrições para mapear seu futuro império. 

É um livro pequeno, mas muito dividido. São nove capítulos no total, além os relatos das 55 cidades distribuídos dentre esses capítulos. Cada capítulo se inicia da perspectiva do imperador ao “ouvir” os relatos de Polo, ainda que não seja o narrador, enquanto nos demais capítulos temos as descrições das cidades feitas pelo viajante. 

Curiosamente essas 55 cidades possuem nomes de mulheres (alguns bem estranhos, diga-se de passagem); talvez, porque, em italiano, o substantivo “cidade” (città), como em português, pertença ao gênero feminino. Mas não existe uma explicação concreta para isso. 

A descrição das cidades vem acompanhada por títulos que, de certa forma, empregam um sentido parcial à alegoria da cidade. São eles: as cidades e a memória, o desejo, os símbolos, delgadas, as trocas, os olhos, o nome, os mortos, o céu, contíguas e ocultas. Essas vêm numeradas de acordo com sua aparição no decorrer do livro. 

“[...]- Para distinguir as qualidades das outras cidades, devo partir de uma primeira que permanece implícita. No meu caso, trata-se de Veneza.” 

Valendo-se de uma lógica aristotélica, creio eu, o livro trabalha a todo tempo com alegorias, “ressignificando” o significado das coisas e das pessoas. Por diversos momentos as cidades dizem respeito às cidades, mas também dizem respeito a sentimentos, sensações, aspirações, ideais... Tudo parece como um grande sonho (para quem essas cidades são invisíveis?). Acredito que não haja nenhuma resenha ou artigo categórico em relação ao que elas significam. Fazer isso, talvez, seja um sacrilégio quando o próprio autor - ou personagem - não o fez. E não serei eu a fazê-lo. 

“[...] porque o passado do viajante muda de acordo com o itinerário realizado, não o passado recente ao qual cada dia que passa acrescenta um dia, mas um passado mais remoto. Ao chegar a uma nova cidade, o viajante reencontra um passado que não lembrava existir: a surpresa daquilo que você deixou de ser ou deixou de possuir revela-se nos lugares estranhos, não nos conhecidos.” 

A cada leitura, o que achávamos que já tínhamos entendido sobre as cidades se desconstrói com a multifacetada escrita de Calvino. Algumas cidades, para mim, foram muito mais significativas do que outras. Tenho certeza de que isso só aconteceu porque ainda não me vi envolta pelas tantas outras cidades que o autor nos propõe. Cada viajante sabe quais já visitou ao longo de sua vida e história. 

Mesmo alguns elementos sendo difícil compreensão, Calvino dá um prato cheio para os amantes de arquitetura com direito a muitos termos técnicos e as cidades mais criativas já inventadas. Para os mais visuais, há algumas edições que já contêm ilustrações. Não são muitas, mas vale a pena conferir as cidades finalmente traçadas. 

É difícil falar de um livro cujo significados são tão intimistas. Mas é por essa escrita fantástica - a qual muitos dizem ter se inspirado no próprio realismo fantástico - que Calvino tornou-se um clássico da literatura italiana e mundial. 

E, para fechar, os deixo com a fala do próprio autor sobre esta sua obra: 

"Se meu livro “As cidades invisíveis” continua sendo para mim aquele em que penso haver dito mais coisas, será talvez porque tenha conseguido concentrar em um único símbolo todas as minhas reflexões, experiências e conjeturas." 

A presto! 



P. S.: Calvino, apesar de ser um autor clássico italiano cujas obras foram todas escritas (obviamente) em italiano, nasceu em Cuba, mas ainda bem jovem retornou com seus pais à Itália. 

P. S. 1: Esse é daqueles livros que você só vira para o amigo e diz: “Só lê, cara.” 

P. S. 2: Eu destaquei tanta coisa do livro que eu poderia fazer uma resenha só com meus trechos destacados. 

P. S. 3: Chega de p.s’s.

Ludmila Pestana

16 comentários:

  1. Ludmila!
    O que mais gostei foi você trazer um livro fora do círculo de lançamentos das editoras atuais e com tema tão diferente e instigante.
    Cidades com nomes de mulherees e que são descontruídas e reconstruídas pelo autor, fantástico.
    Valeu!
    cheirinhos
    Rudy

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    1. É verdade. Não é um livro do círculo de lançamento das editoras, mas é um livro que merece ser lido e que quase não tem nada comentado sobre, em português.
      Vale a pena a leitura, com certeza!
      Beijão!

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  2. Olá! ♡ Confesso que eu ainda não conhecia o autor, nem esse livro, mas gostei bastante da premissa, achei muito interessante essa temática de viagens! ♡
    Gostei dessa dinâmica de capítulos entre a perspectiva do imperador e as descrições das cidades, a mesma parece funcionar muito bem!
    Mas o que mais chamou minha atenção acerca dessa leitura é o fato do autor trabalhar com alegorias e as cidades dizerem respeito a sentimentos e sensações.
    Obrigada pela indicação, com certeza vou querer conhecer essa obra. Vou pesquisar mais sobre o autor e suas obras também.
    Beijos! ♡

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    1. Como eu disse, esse livro é daqueles que você só fala: lê, por favor! Ahahahah
      Tenho certeza de que você vai ter outras percepções na sua leitura.
      Beijão.

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  3. Nunca li nada do Calvino. Mas quero ler esse livro porque sempre ouço falar muito bem. Mas me deu até medo. Ler 5 vezes e precisar de mais 5? Uau! No mínimo um livro bem profundo. E se o próprio autor afirma que fez suas maiores reflexões dentro desse livro só posso acreditar que tenha muito sentimento dentro dele. Com certeza um livro que depois de lido merecerá ser refletivo.
    Lerei!

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    1. A cada leitura é uma coisa nova a ser descoberta, uma nova percepção, uma nova sensação.
      Com certeza tá lá lista dos 100 livros cuja leitura é obrigatória.
      O Calvino é sensacional, e olha que as cidades invisíveis nem é o meu favorito dele.
      Depois conta como foi a experiência de leitura.
      Se vc gosta de livros profundos como o pequeno príncipe, Ulisses e qualquer coisa do Goethe ou do Camus, tenho certeza de que vc vai se acabar e amar essa leitura.
      Beijão!

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  4. Não li nada do autor, mas fiquei curiosa com esse livro deve ser de difícil leitura, já que tem que ler várias vezes rs. Achei diferente esse história e fiquei curiosa com essas cidades seus títulos e suas sensações, deve dar um clima de paz interior quando fala sobre elas. Gostaria mais da edição com ilustrações para degustar essa parte criativa da arquitetura, gosto muito de ver estilos de lugares diferentes.

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    1. Não é difícil de ler, não. Ahahahahahah
      A ideia de ler 5x é que a cada leitura você consegue tirar algo novo de lá. As leituras são múltiplas!
      Realmente, algumas cidades me trouxeram paz e uma nostalgia tamanha, mas outras, em compensação, deram-me uma angústia terrível.
      Vale super a pena, a leitura.
      Beijão!

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  5. Ludmila, há muitos anos atrás li um livro com mais de 500 páginas,que contava a história de um viajante morador de Veneza e que se aventurava pelo oriente. E o personagem contava todas as suas proezas pelos lugares por onde passou.
    Se não me engano esse livro se chamava "O Viajante",pensei até que se tratava de uma história real.
    Já tentei encontrar esse livro diversas vezes mas não consegui.
    Ele me marcou muito!
    Lembro-me que eu devorava cada página do livro, sempre querendo mais.

    Agora fiquei aqui curiosa em saber se o livro que resenhou, está ligado com o livro que li e que nunca saiu de mim...

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    1. Marco polo, o viajante veneziano, é figurinha carimbada em várias histórias que trazem essa temática de viagem.
      Apesar de termos duas personagens reais em "as cidades invisíveis", a história é fictícia, obviamente. Mas a ficcionalidade da história em nada atrapalha a veracidade das sensações que Calvino desperta na gente com sua escrita e suas cidades.

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  6. Oiii ❤ Esse parece ser um livro que a cada vez que é lido traz novas informações e reflexões.
    Gostei que o livro é sobre as descrições que Marco Polo fez das cidades dominadas por Kublai Khan.
    Eu nunca li nada do autor, nem mesmo sabia da existência dessa obra, mas gostei de saber sobre o que se trata.
    É bem curioso mesmo que as cidades descritas pelo viajante tenham todas nomes de mulheres.
    Gostei que as cidades são relacionadas a sentimentos e sensações.
    Beijos ❤

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    1. Pode ler qualquer coisa do Calvino sem medo de ser feliz! Ahahahah
      Meus livros favoritos do autor são "as cidades invisíveis", "se um viajante em uma noite de inverno", "marcovaldo ou as estações na cidade" e "fábulas italianas".
      Sei que amo muitos livros do autor, mas selecionar só quatro dentre tantas coisas que ele escreveu não é tarefa fácil! Pode acreditar! Ahahahahahaha
      Espero que vc leia algo dele e depois venha comentar comigo o que achou.

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  7. Ri demais da advertência rs. E 55 cidades com nomes de mulheres é muito curioso. Nunca li nada italiano, mas tenho uma vontade de conhecer a Itália e aprender o idioma. É legal o quanto as cidades podem dizer respeito a sensações e várias outras coisas nesta obra.

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    1. Sou mega suspeita para falar de qualquer coisa relacionada à Itália.
      Mas se eu pudesse indicar um autor para começar na literatura Italiana, com certeza seria o Calvino.

      P. S.: As advertências são sempre minhas partes favoritas. Ahahahah

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  8. Olá! Nossa só pela resenha deu para perceber que essa é uma daquelas leituras que te marcam! Eu sou adepta a reler (quase sempre) aquela história linda que me fez suspirar, ou até mesmo, aquele livro que me deixou incomodada por não ter me dado uma boa experiência e é sempre interessante, pois acabo tendo uma nova visão e eu costumo brincar que é praticamente uma nova história, acho que é isso que acontece com esse livro! Vai ser bem interessante e uma experiência muito válida conhecer a escrita de um italiano.

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    1. Oi, Elizete!
      Também amo fazer releituras.
      Nelas sempre encontramos algo não percebido inicialmente.
      Este livro é fantástico e nos dá uma experiência muito pessoal.
      Calvino é maravilhoso.
      Bjs

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